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quarta-feira, 16 de abril de 2014

Uso pedagógico do Datashow


  
         Um datashow apenas projeta imagens em um anteparo, mas tem a vantagem de usar a tecnologia digital. Com essa tecnologia podemos projetar imagens estáticas ou em movimento e, além disso, podemos sincronizar a projeção da imagem com uma trilha sonora emitida por algum outro aparelho. Resumindo: tudo aquilo que podemos visualizar em uma tela de um computador pode ser também projetado por um datashow. E isso nos permite uma flexibilidade de uso incrível.        
         Para usar o datashow é preciso, além dele próprio, de uma fonte de imagens digitais. A forma mais eficaz de se obter essa fonte, consiste em ter um computador ligado ao datashow. E, muito embora qualquer computador sirva, inclusive os de modelo desktop (computadores de mesa), é muito conveniente que se use um notebook.
         Além do par notebook + datashow, se você pretende usar uma trilha sonora, será preciso ter um aparelho capaz de amplificar o som do notebook (uma caixa de som amplificada) para que a classe toda possa ouvir. Há no mercado mini-caixas acústicas muito baratas e suficientemente boas para atender essa necessidade.
         Transportar esse kit, datashow + notebook + som, para a sala de aula, não é difícil e, pode (e deve) ser feito pelo próprio professor. Montar o kit também é fácil e não requer mais do que três minutos. Basta conectar o cabo de vídeo entre o datashow e o notebook, conectar o cabo do som à saída de som do notebook e então conectar os cabos de energia dos dois aparelhos à tomada.
         É claro que já existe no mercado minidatashows que cabem na palma da mão e que possuem som e memória de armazenamento para dados. Ou seja, já temos aparelhos que dispensam o notebook e as caixas de som, além de poderem ser ligados ao celular, a um iPad, um tablet, enfim, a qualquer coisa que forneça dados digitais.
         No entanto, esses aparelhos ainda são muito caros ou bastante limitados em termos de potência. Talvez em alguns meses já tenhamos aparelhos bem melhores e com mais funcionalidades por preços acessíveis e com melhor qualidade.
         Seja lá qual for o kit que você disponha, o foco desse artigo é o que vem a seguir: o uso pedagógico do datashow.

Requisitos “do ambiente” para usar o datashow

1 – Definindo o local de projeção das imagens

         Muitas pessoas imaginam que seja preciso ter uma “sala especial”, com telão e sistema de som, além de um local “fixo” para o datashow. Porém, nada disso é necessário. O telão pode ser substituído por qualquer parede clara da própria sala de aula, preferencialmente uma parede branca. O melhor ajuste da imagem projetada se obtém aproximando ou afastando o datashow dessa parede e ajustando o foco manualmente no próprio aparelho. Esse ajuste pode tomar como parâmetros dois fatores: tamanho e qualidade da imagem. Quanto menor o tamanho da imagem, mais brilhante e definida ela é e, quanto maior, mais atenuada e menos nítida ela se parece. Além disso, se a imagem for muito pequena ou muito grande ela poderá não ser suficientemente visível para todos os alunos da classe.

2 – Definindo a luminosidade

         Como a imagem projetada no anteparo (parede, telão, lousa, etc.) concorrerá com a luz de fundo do ambiente, o ideal é deixar o ambiente em situação de penumbra. Um ambiente muito escuro dispersa os alunos e dificulta a observação do professor, além de dificultar que o aluno possa fazer anotações em seu caderno durante a atividade. Um ambiente claro demais dificultará a visualização das imagens projetadas. O meio termo é a situação que permite que qualquer aluno enxergue bem o seu caderno, que o professor enxergue bem todos os seus alunos e que todos na sala enxerguem bem as imagens projetadas. Em salas com pouca penumbra procure reduzir o tamanho da imagem projetada para que ela fique mais nítida e brilhante.

3 – Definindo as condições acústicas

         Se sua atividade requer o uso de sons, procure apontar as caixas acústicas para os cantos da parede oposta onde estão o projetor e as caixas de som. Use caixas amplificadas, ainda que sejam “mini caixas”, e negocie anteriormente com os alunos as condições de silêncio durante a apresentação. Se o local tiver muito ruído de fundo vindo das demais salas, procure manter portas e janelas fechadas durante a apresentação.


Requisitos pedagógicos para usar o datashow

         Como qualquer recurso pedagógico “tradicional” que já usamos em nossas aulas e atividades, o uso do datashow envolve objetivos, planejamento, estratégias didáticas e avaliações. Para usá-lo é preciso ter:

   Um objetivo pedagógico claro: O que você quer que o aluno aprenda com essa aula? Que habilidades e competências serão trabalhadas?
   Uma justificativa didática: Porque o datashow vai possibilitar um melhor aprendizado em relação aos recursos “tradicionais”? Qual é o ganho didático?
   Um planejamento do uso: Quanto tempo vai durar a atividade? O que será mostrado, e de que maneira farei isso? Como vou conduzir a atividade?
   Uma avaliação da aprendizagem e do uso do recurso: Como vou avaliar os resultados da aprendizagem dos alunos? Como saberei se o uso do datashow foi realmente mais eficiente do que os métodos “tradicionais”?

         Os objetivos pedagógicos podem ser os mais variados e geralmente estão relacionados aos “conteúdos” ou, melhor dizendo, às competências e habilidades que serão trabalhadas.         Teoricamente todo professor é capaz de ter esses objetivos claros antes de realizar qualquer atividade.
         A justificativa didática para o uso do datashow pode não ser “tão óbvia” quanto o objetivo pedagógico, pois escolher o uso do datashow, em detrimento de outros recursos “tradicionais”, envolve um certo conhecimento sobre as novas possibilidades que as TICs nos oferecem.
         O planejamento da atividade demanda as mesmas habilidades que o professor já tem para planejar suas aulas “tradicionais” e requer, ainda, que o professor tenha uma boa idéia das facilidades e dificuldades que enfrentará ao usar o datashow (transporte, montagem, desmontagem, etc.), de forma que possa explorar os pontos favoráveis e minimizar os pontos desfavoráveis.

Uso do datashow como ilha de edição de vídeo

         A TV, o videocassete (já quase extinto) e o DVD, são recursos que muitos professores já utilizam e, geralmente, estão associados a atividades onde os alunos trabalham com filmes, documentários, ou trechos de vídeos com conteúdos potencialmente interessantes para a aprendizagem de um determinado tema. Todos esses recursos podem ser substituídos com vantagens pelo datashow, pois além dele permitir a apresentação desses vídeos em uma tela maior do que as telas de TV comuns, também é possível ter um controle muito maior sobre a projeção ou a edição das imagens.
         Esse controle não deriva diretamente do datashow, mas sim do uso do computador. Com o player do computador é possível parar o filme em qualquer momento e destacar um trecho da imagem, saltar para qualquer outra posição, ampliar e reduzir a imagem, etc. Além disso, com o computador e algum software de edição de imagem ou vídeo, é possível inserir comentários, recortar trechos, fazer montagens, modificar a trilha sonora, e até mesmo criar efeitos especiais.
         O datashow não é apenas uma TV de tela gigante, ele é uma ferramenta que, em parceria com o computador, torna-se uma ilha de edição de vídeo, som e imagem, permitindo assim adaptar os vídeos apresentados em função dos objetivos próprios da atividade.

Uso do datashow como projetor de slides

         Essas apresentações são meios poderosos para apresentar idéias de forma sintética e elegante. O uso do datashow, e do computador acoplado a ele, permite também que apresentemos galerias de imagens sem ter que inserir essas imagens em slides. Isso nos dá bastante flexibilidade para navegar entre imagens e mesmo para modificá-las “just in time” (no momento da aula). O mesmo vale para pequenos textos (como trechos de poesia), resumos, gráficos e tabelas que temos armazenados no computador ou que podemos baixar da internet. Substituir a apresentação de slides pela apresentação direta desses documentos pode ser vantajoso, em alguns casos, pela maior flexibilidade que teremos para manipulá-los. No entanto, ao substituir a apresentação de slides pela apresentação direta de imagens e textos, é preciso estabelecer um roteiro bem planejado de apresentação (como se fossem slides mesmo!) e garantir que a visualização das imagens projetadas não seja comprometida pela formatação (tamanho da letra, cores, etc.).

Uso do datashow como ferramenta interativa

         Um texto pode ser construído colaborativamente pela classe enquanto projetado por um datashow. Laboratórios virtuais podem mostrar o andamento de reações químicas e seus parâmetros podem ser ajustados durante a apresentação. Simuladores, animações em flash e softwares interativos podem ser usados de forma colaborativa pela classe toda quando usamos um datashow. O fato do datashow projetar na tela tudo aquilo que estiver sendo visto na tela do computador nos permite compartilhar o computador do professor com toda a classe. O limite para o uso desse recurso só depende do limite da nossa própria criatividade.

Uso do datashow como internet compartilhada

         Um uso muito especial e compartilhado do datashow ocorre quando temos acesso a internet no computador ligado ao datashow. Esse acesso e a possibilidade de compartilhar a tela do computador nos permitem “navegar na internet junto com a classe”. Isso é bastante útil quando pensamos no potencial de uso das ferramentas de web disponibilizadas na própria internet, como o Google Maps, o Youtube, os museus virtuais e a infinidade de objetos educacionais disponíveis na rede. Muito melhor do que criticar a falta de habilidade do aluno ao usar a internet para pesquisar, por exemplo, é ter esse recurso em mão para mostrar aos alunos como devem pesquisar e estudar usando os recursos da rede. Reconstruir o currículo à partir dessa perspectiva pode tornar as aulas muito mais ricas e interessantes, além de possibilitar aos alunos uma melhor compreensão de como a rede pode ser usada para seus estudos.

Uso do datashow pelos alunos

         Evidentemente o professor não é, e nem pode ser, o único usuário do datashow. O aluno também é seu usuário na medida em que o professor migrar a forma de apresentação de trabalhos e seminários para essa ferramenta. Já foi o tempo em que os alunos iam para a frente da sala segurar uma cartolina decorada com recortes de livros e revistas e ficavam lendo tiras de papel com anotações sobre o assunto que estavam apresentando. Com o uso do datashow agora os alunos podem apresentar trabalhos na forma de apresentações multimídia (slides, filmes, músicas, etc.).

         Acho que já está bastante claro, pelos exemplos anteriores, que as possibilidades são imensas e que dependem de como o professor planejará suas aulas, do conhecimento que ele tiver sobre os recursos disponíveis na internet, na escola ou na igreja. Finalmente, da sua capacidade de gerir o currículo de um ponto de vista mais autônomo, onde ele, professor, passa a ser o ator principal no planejamento de suas aulas, ao invés de deixar isso por conta apenas dos livros didáticos disponíveis.

Além de usar também é preciso cuidar!

         O datashow ainda é um aparelho frágil e caro e, por isso mesmo, é preciso cuidar bem dele. Aqui vão algumas sugestões para evitar “acidentes” com o datashow e para prolongar seu tempo de vida.

   Transporte e armazenamento: transporte com cuidado e sempre dentro da bolsa onde ele é guardado. Evite pedir que os alunos transportem o datashow, pois eles podem não ter lido esse artigo e podem não saber que cuidados tomar. Guarde em lugar seco e arejado e nunca coloque outros objetos sobre o datashow. Guarde sempre desmontado e mantenha seus cabos (de vídeo e de energia) guardados na mesma bolsa onde guarda o aparelho, no local apropriado dela.
   Ligamento e desligamento: Ao ligar o aparelho pode ocorrer de demorar para começar a funcionar. Não tenha pressa e lembre-se de que não adianta “bater nele”. Ao desligar faça-o pelo aparelho e aguarde que ele mesmo se desligue antes de retirar o cabo de força da tomada (os aparelhos “se resfriam” antes de se desligarem).
   Manipule com cuidado: o datashow é frágil e tem componentes que podem se danificar devido a choques. Evite trepidações, batidas e chacoalhões. Obviamente o datashow não gosta de tomar banho, fica irritado com a poeira do giz e não quer ser derrubado. Lembre-se: cuidado, frágil!
   Monte em local adequado: Ao montá-lo sobre uma mesa ou carteira, certifique-se de ninguém vai passar por ali e “tropeçar” na mesa ou nos cabos de energia. Muitas quebras de datashow ocorrem por essa razão. É sempre bom explicar isso para os alunos e “isolar” a área próxima ao local de montagem do aparelho.
   Aumente a vida útil da lâmpada: a parte mais cara do datashow (custa quase o preço dele próprio) é sua lâmpada. Ela tem uma vida útil limitada e um dia vai queimar-se naturalmente, mas você pode prolongar o tempo de vida dessa lâmpada. Evite batidas no aparelho, não deixe o datashow ligado quando não estiver de fato utilizando e, sempre que for fazer uma pausa na apresentação, coloque-o no modo de “tela branca” (os aparelhos têm uma opção de “não projetar nada” para economizar o uso da lâmpada quando necessário). Além disso, há regulagens “econômicas” no próprio aparelho.

Conclusões e reflexões sobre o uso do datashow

         O uso do datashow em sala de aula possibilita uma abordagem inovadora do currículo, permite a inserção de ferramentas colaborativas nas práticas pedagógicas, amplia o universo de informações que o professor leva para a sala de aula. Além de tornar mais simples determinadas atividades expositivas em que o professor precisa se empenhar muito na lousa, liberta o professor da tirania do livro didático, possibilita aos alunos aprendizagens diretamente ligadas ao mundo digital moderno onde ele vive e torna as aulas mais interessantes, dinâmicas e ricas em possibilidades.
         Em contrapartida, o professor é muito mais exigido no campo de suas competências como educador, precisa dedicar um tempo extra à pesquisa de recursos na internet, tem que fazer planejamentos de aula “de fato” (e não apenas “pro-forma”, como muitas vezes ocorre) e, claro, tem que dispor dos recursos necessários em sua escola ou igreja. Além disso, como o uso da tecnologia digital ainda está bastante sujeito as intempéries diversas, é sempre preciso ter um “plano B” que permita o desenvolvimento da aula quando o datashow não estiver disponível.
        



ANTONIO, José Carlos. Uso pedagógico do Datashow, Professor Digital, SBO, 06 abril 2011. Disponível em: . Acesso em: 19/05/12